Pov de Jully
Dois dias após a hospitalização, eu estava de volta ao meu apartamento, mas a tensão pairava no ar. Olhei para Gerard, o rosto carregado de seriedade, e pedi para que me acompanhasse até a sala. Gerard apenas me acompanhou.
_ Gerard, precisamos conversar. - Comecei, minha voz firme, mas carregada de uma tristeza profunda.
Notei que ele estava tenso. Ele se acomodou no sofá, aguardando com apreensão o que estava por vir.
_ Eu não posso ignorar o que aconteceu no hospital. Sua crise de ansiedade, Gerard, isso não é algo que podemos simplesmente deixar de lado. - Eu disse, fixando meu olhar nele.
_ Eu sei, Jully. Eu não devia ter deixado chegar a esse ponto. - Gerard engoliu em seco, sabendo que a conversa tomaria um rumo delicado.
Respirei fundo antes de continuar.
_ Você precisa me contar o que está acontecendo. Por que isso aconteceu? Por que você teve uma crise tão intensa?
Os olhos de Gerard buscaram os meus, revelando uma vulnerabilidade que raramente ele permitia ser vista.
_ Eu tenho medo, Jully. Medo de não ser bom o suficiente, de não ser capaz de ser alguém importante na sua vida e na vida dos bebês. Eu... eu tive um relacionamento difícil com meu pai, e essa sombra sempre esteve aqui, me assombrando.
Ouvi atentamente, compreendendo a dor que Gerard carregava. As lágrimas surgiram em meus olhos, mas eu sabia que precisava ser honesta comigo mesma e com ele.
_ Gerard, eu entendo seus medos, mas não podemos ignorar a realidade. Meus bebês estão a caminho, e preciso lidar com isso. Mas para isso, você precisa se permitir ser amado e aceitar que merece felicidade, sendo ao meu lado junto a meus filhos ou sozinho.
Minhas palavras pairaram no ar, mas Gerard sabia que aquilo era apenas o prelúdio de uma decisão que ele temia.
_ Eu não posso continuar assim, Gerard. Eu não posso ignorar a profundidade dos seus medos, e eu não posso permitir que isso afete o nosso relacionamento. Nós dois merecemos mais do que isso.
O rosto de Gerard empalideceu enquanto ele processava as minhas palavras.
_ Você está terminando comigo?
Assenti, as lágrimas escorrendo por meu rosto.
_ Eu amo você, Gerard, mas eu não posso ignorar o que está acontecendo. Precisamos cuidar de nós mesmos para podermos estar juntos.
A tristeza pesava no ar enquanto Gerard se levantava do sofá. Ele saiu do apartamento, as lágrimas escorrendo por seu rosto, sabendo que estava me perdendo. A porta se fechou atrás dele, deixando para trás um apartamento mergulhado na melancolia.
Pov de Gerard
Dirigi pelas ruas da cidade, as luzes da noite piscando como estrelas distantes. Meu peito apertava-se com a dor do término repentino com Jully, e a sensação de não ser bom o suficiente para ela e para os bebês pesava como uma âncora em minha alma.
As ruas refletiam a confusão que atormentava meus pensamentos. A lembrança do relacionamento difícil com meu pai ressurgia, formando uma tempestade emocional dentro de mim. O medo de repetir padrões prejudiciais corroía minhas esperanças de construir uma família estável.
O som do motor do carro tornou-se a trilha sonora melancólica para meus pensamentos tumultuados. Eu dirigia sem rumo, perdido em minhas próprias dúvidas e arrependimentos. As lágrimas obscureciam minha visão enquanto as estradas se tornavam testemunhas silenciosas da tempestade emocional que me consumia.
Flashbacks do meu passado invadiram minha mente, imagens de um pai ausente e relações conturbadas que moldaram minhas inseguranças. O medo de não ser digno do amor de Jully e de não ser capaz de proporcionar um ambiente estável para seus filhos parecia tornar-se realidade na escuridão da noite.
A estrada se estendia à frente como uma jornada sem fim, refletindo o vazio que eu sentia. A névoa da noite envolvia o carro, ocultando minhas lágrimas e angústias enquanto eu lutava contra as memórias que ressurgiam.
Ao longo da madrugada, dirigi, refletindo sobre o que havia perdido e sobre o homem que temia me tornar. O rugido do motor e a monotonia das luzes da rua formavam um cenário desolador para minha alma atribulada.
Somente quando o sol começou a espreitar no horizonte, percebi que havia percorrido uma jornada sem destino por toda a noite. A realidade do que aconteceu com Jully e a dor de meu próprio passado eram como sombras que me envolviam.
Exausto, tanto emocional quanto fisicamente, eu estacionei o carro à beira de uma estrada deserta. O silêncio da manhã envolvia-me como um abraço frio. Eu permaneci ali, perdido em pensamentos, procurando respostas para as perguntas sem solução que atormentavam minha mente.
A minha jornada continuava, uma estrada desconhecida estendendo-se à frente, repleta de incertezas. O amanhecer trouxe uma nova luz, mas o peso de minhas próprias inseguranças e medos persistia, deixando-me à deriva em uma estrada sem fim.